segunda-feira, 30 de junho de 2014

VOCÊ LIDA BEM COM ADVERSIDADES?

Hoje vamos falar de um tema que pipoca volta e meia na nossa salinha lá na clínica - e nos jantares, bares, filas do supermercado e até conversas de elevador, quando o bicho fica parando de andar em andar e a vizinha que não te vê faz tempo resolve contar como tá a vida: RESILIÊNCIA. Não, não é aquilo que ajuda a entrar mais fácil (o nome disso é VASELINA, cazzo). Resiliência é um conceito que veio da física e se refere à propriedade que um corpo tem de voltar à forma depois de sofrer um choque ou uma deformação. Na psicologia, resiliência é a capacidade que a gente tem de enfrentar adversidades e manter uma habilidade de adaptação em vez de se deixar espatifar no chão. As pessoas
são capazes de se transformar a partir das adversidades, recuperar o fôlego e superar qualquer babado. Mas aí tem muita gente que, numa escala de 0 a 10, tem resiliência 0,05. MUITA gente. Vamos a alguns exemplos e você conta se se identificou com algum (ou conhece alguém em que a carapuça serve direitinho):

- Ele tá indo bem no emprego, vidinha arquitetada, contas pagas em dia, folga sábado e domingo, que delícia. Daí a empresa faz um corte brutal de gastos, que vai da marca do papel higiênico aos "queridos" colaboradores, e ele roda. Depois disso, se enfia debaixo do edredom e demora anos pra arrumar outro emprego, que, é CLARO, não é NADA comparado ao antigo. O antigo era A OPORTUNIDADE da vida e ELE, pobre coitado que foi cuspido pra fora, massacrado pelo impiedoso sistema capitalista e bla-bla-bla-bla-bla, não terá mais chance de encontrar seu lugarzinho sob o sol.

- Ela é louca pra ser médica desde que se conhece por gente. Aos 5 anos já andava pela casa passando Vick Vaporub nos ursinhos de pelúcia e enfiou na cabeça que queria ser pediatra, cuidar de crianças doentes, salvar vidas, vestir branco, uau! Só que daí não passou no vestibular pra medicina.  E como na família todo mundo sempre entrou de cara na faculdade e ela tinha colocado "farmácia" como segunda opção, resolveu encarar a segundona. Pro resto da vida. Porque ninguém merece fazer anos de cursinho pra não passar, né? E ela conhece umas pessoas que estão tentando pela quarta vez! Socorro, né?!

- O casal financia apartamento e carro e rala, rala, rala pra pagar. Aí os dois decidem fazer a viagem dos sonhos depois de 5 anos vendendo as férias. Compram passagem, sunguinha nova, câmera digital, reservam o hotel mais show de bola. Duas semanas antes da viagem, o salário dela atrasa e os clientes dele param de fazer pedido. O casal faz os cálculos e percebe que, se não desistir da viagem, as contas vão todas atrasar. Aí os dois começam a sofrer de insônia e preocupação, ele brocha, ela vai pra casa da mãe - até que, sabiamente, decidem que é melhor deixar a viagem pra dali a mais 5 anos e ficar com as contas em dia, jogando buraco em casa.

Aí a gente pergunta: olhando pra essas três criaturas, o que VOCÊ diria pra elas?
- Cara, pelo menos você conseguiu um outro emprego. Tem tanta gente passando fome por aí.
- Lindinha, medicina é difícil mesmo. Desencana. O que importa é você ter um diploma e uma vida estável. E se você quiser eu te empresto minhas temporadas de "Plantão Médico" pra você assistir sábado à noite. Pro resto da vida.
- Gente, melhor dormir um sono tranquilo, sabendo que vocês não devem nada pra ninguém, do que ficar transando bronzeados e depois voltar pra casa com o nome sujo e um monte de conta pra pagar.
SE ESSAS SERIAM AS SUAS RESPOSTAS, PROVAVELMENTE SEU NÍVEL DE RESILIÊNCIA TAMBÉM É QUASE NULO.

A gente tem mania de abrir mão dos ímpetos, das loucuras, dos sonhos e dos desejos pensando no que "é certo". Mas é certo pra quem, cara pálida?! Pra sociedade? Pro banco? Pro seu papai? Pros seus vizinhos? OU É CERTO PRA VOCÊ?

Isso vale pra qualquer situação que venha de fora pra dentro, rasgando. Viver é complicado e volta e meia dá errado, não acontece exatamente como a gente planejou. Dinheiro acaba, pessoas ficam doentes, gente querida morre, propostas são declinadas. Só tem uma coisa que não muda nunca na vida: a condição que a gente tem de mudar. A gente tem mania de querer controlar tudo pra se sentir seguro, mas a verdade é que nada tá no nosso controle - e só tá seguro quem tá morto. Por isso mesmo a grande delícia, na verdade, é desenvolver essa tal de resiliência. Levar trombadas da vida é normal, todo mundo leva. Então por que não saber mudar, se adaptar e se transformar a partir delas? Mas se você preferir, claro, sempre dá pra cruzar os braços e ficar postando no Face sobre a pobre vítima que você é, injustiçada e incompreendida, sofrendo todas as dores do mundo e esperando que os outros te consolem pelo inbox e curtam seu bom e velho status de condenado. Sempre.